N os estados do Amapá e do Pará, os dois maiores produtores de açaí no Brasil, esse fruto é muito mais do que um produto; ele é um importante elemento cultural que ajuda a compor a identidade e o modo de vida do povo daquela região. Assim, como em todo traço cultural, existem muitas informações desencontradas e sem base científica sobre a segurança no consumo do açaí, principalmente em relação à transmissão da doença de Chagas. Eis alguns mitos e verdades sobre o assunto:
Mitos
1O uso de água mineral no preparo do açaí, combinando a cloração e catação, elimina a contaminação do açaí com a doença de Chagas.
Além da catação e cloração, há necessidade do tratamento térmico dos frutos para inativação do agente causador da doença de Chagas.
2Todo inseto popularmente conhecido como barbeiro ou chupão transmite a doença de Chagas.
Nem todo barbeiro possui no estômago o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. Mas todo barbeiro pode ser contaminado pelo protozoário.
3Existe apenas uma espécie de inseto, popularmente conhecido como barbeiro, capaz de transmitir a doença de Chagas.
O Trypanosoma cruzi geralmente é transmitido por insetos, e são dezenas de espécies que podem transmitir o protozoário causador da doença de Chagas.
Fonte: http://books.scielo.org/id/mw58j/pdf/galvao-9788598203096-08.pdf
Fonte: http://www.fiocruz.br/ioc/media/Atlas_triatominio_jurberg.pdf
4O choque térmico (branqueamento) no fruto do açaí altera o sabor da bebida.
O calor aplicado ao fruto durante o choque térmico por apenas 10 s não consegue alterar o sabor da bebida final, o que já foi comprovado por técnicas de análise sensorial entre consumidores de açaí
5O choque térmico (branqueamento) no fruto do açaí torna o fruto “encruado” e dificulta a retirada da polpa.
O calor aplicado ao fruto durante o choque térmico, se realizado de maneira correta, não altera a qualidade do fruto. Existem diferentes tipos de frutos de açaí e de diferentes localidades, que podem ter diferentes características durante o processamento, mas que não alteradas pelo choque térmico.
6O amolecimento aplicado ao fruto de açaí antes da transformação em bebida é considerado um choque térmico (branqueamento).
A etapa de amolecimento dos frutos geralmente utiliza água aquecida em torno de 40-45ºC, muito abaixo da temperatura necessária para inativação do protozoário Trypanosoma cruzi, alcançada no choque térmico de 80 a 90ºC. Dependendo do fruto, principalmente em relação à safra, quando aplicamos o choque térmico no fruto, não é mais necessário o amolecimento do fruto.
Verdades
1É possível pegar a doença de Chagas consumindo açaí congelado.
Pesquisas indicaram que o protozoário (Trypanosoma cruzi) causador da doença de Chagas é capaz de sobreviver na polpa da fruta tanto em temperatura ambiente, como a 4 °C, temperatura média de uma geladeira, e até a -20 °C, no açaí congelado. Congelar o açaí não nos livra do perigo de contrair a doença, caso haja contaminação.
2A doença de Chagas também é transmitida pelo contato de pessoa para pessoa.
A doença de Chagas pode ser transmitida de pessoa para pessoa através do recebimento de sangue contaminado ou materno-infantil (na gestação ou por aleitamento materno). A transmissão sexual é possível em indivíduos na fase aguda da doença que mantenham relações sexuais nas quais ocorram eventual exposição ao sangue.
Fonte: http://www.fiocruz.br/portalchagas/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=11
3A pasteurização da polpa de açaí é a mesma técnica que o tratamento de choque térmico (branqueamento) do fruto do açaí.
O choque térmico ou branqueamento é um tipo de tratamento térmico aplicado ao fruto de açaí antes do processamento em bebida e pode ser utilizado por pequenas agroindústrias como batedeiras de açaí. A pasteurização também é um tratamento térmico aplicada na polpa extraída, mas necessita de equipamentos mais sofisticados e geralmente é utilizada por agroindústrias maiores.